Estações amargas

Então nos cansamos e, mais uma vez, entre tantos desastres e fragmentos, decidimos nos amputar para que nenhum estilhaço de granada seja acionado com o mais suave dos passos de pés cansados.
Por que entre tantas lágrimas e delírios a alma clama e a mente não permite que continuemos a lutar, e então a decisão é tomada em rompante e a atualidade se dissipa de segundo a segundo, até que não haja mais faíscas de lembranças, sejam boas ou más.
O bom soldado nunca será aquele que se mantém na linha de frente da infantaria, sem recuar até levar o tiro certeiro que o matará em segundos, mas o que se mantém a salvo para que possa salvar outrem.

Destruição pessoal

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Nem todas as luzes são capazes de iluminar o meu caminho
E nem todas as rezas existentes são capazes de espantar estes demônios.
Gostaria de um café mais forte e milhões de caminhos a trilhar.

Apenas continue, o tempo não para que você possa decidir se quer ficar ou seguir.
Enquanto você permanece estagnado nenhum comprimido faz efeito e todas as fugas são cegas demais para conseguir chegar a algum lugar, ou apenas andar e andar sem parar, sair daqui nunca foi um bom plano.

Não me importo se há um estandarte de ferro a esquerda ou uma cúpula de vidro a direita
Eu sou indestrutível, uma eterna caixa de explosivos e ácidos corrosivos.

A morte é uma puta desgraçada

Nunca consegui diferenciar um céu azul de linhos frios e congelados, o amor de uma doce e perfeita ilusão.
A sobrevivência de metade dos meus dias ruins foram completados com o vazio de uma longa existência, longa até demais, ainda que eu tenha tentado reverter isso em alguns momentos de certeza absoluta.
Nunca consegui diferenciar o não de um talvez ou possivelmente.

Meios termos não me bastam, eu os odeio profundamente.
No entanto, vivo em uma corda bamba que estremece os pelos de minha nuca.
Mas nunca caio, ainda que queira mais do que qualquer outra coisa.
A vida não concede pedidos a ninguém, ainda que muitos o tentem fazer.

A morte é puta desgraçada.

Já nem me lembro mais

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O quadro em branco pregado a grande parede azul mostra mais de mim do que eu mesma consigo mostrar. É lamentável o modo como sou e de repente já nem me lembro mais. Deixo de ser assim como passei a ser há apenas alguns segundos atrás, é estranho o modo como vivo uma constante inconstância. Me confunde quem passa a dizer que me conhece bem, e ousam dizer mais do que qualquer outra pessoa. Como podem se em momento algum passei a conhecer a mim mesma, se não conheço nem mesmo o reflexo torto no espelho sujo de carmesim, o que dirá uma outra pessoa.

Minhas mudanças inconstantes chamam atenção, sou sempre a primeira a ser tirada para dançar, querem algo de mim que não descobrir o que. Algo que beira a indecisão mesmo quando tomo as decisões mais certeiras é atraente, e a oscilação entre meus dizeres estranhamente sexys e minha boca carnuda os deixam anuviados, com algum tipo de desejo que não consigo compreender. Homens são estranhos, e mais estranhos são os nossos desejos de ter algum deles, para o resto da vida e além. Estão todos perdidos, muito mais do que eu.

O cigarro sobre meus lábios é sempre o mesmo Marlboro de filtro vermelho, odeio mentolados e isso nunca mudou, uma das poucas coisas que não mudaram. Mas minhas escolhas a respeito das bebidas que bebo são mudanças a qual não faço questão de aprender. Saber que misturas posso fazer e continuar sóbria, ou quase, não me é interessante. Gosto de viver no limite, e meu desejo de provar e provar até que algo genuíno seja sentido nunca acaba.

Costumo me colocar em perigo, algo entre a vida e a morte me atrai mais do que o normal. Não é algo novo meus pensamentos de pura cobiça com a morte, no entanto, acostumei-me a viver dessa maneira. O que faço não é problema de ninguém. Quando me coloco em perigo, não há uma única pessoa a qual venha me salvar de mim mesma. Sou uma inconstante perigosa.

Querem que eu pare de fumar, de beber e tomar meus remédios, mas não há ninguém que queira controlar minha loucura. Sou uma inconstante perigosa demais.

E ainda assim fui terremoto e calamidade

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E então a vela se apaga e o calor se esvai, o amor se desgasta e eu juro nunca amar de novo. Faço um feitiço pra amar alguém impossível, porque me parece tão irreal amar de novo em tão viva intensidade outra vez, parte de mim se cansa e nem sequer quer tentar. Toda cumplicidade, todo o amor, desejo e paixão sentidos tão lascivamente em meu âmago.

As flores pintadas em meu corpo apodreceram, as marcas desapareceram, o gosto do beijo foi esquecido e do céu só caem gotas de chuva, e trovões ensurdecedores. O sol se foi para nunca mais voltar, deu adeus à estrada e se recusa terminantemente a voltar. E eu tenho pena de quem precisa atravessar aquele lugar, tenho medo dos que moram na solidão e se contentam com a escuridão.

Eu morri de tanto viver e me afoguei em tantos erros que não calculei. Do melhor da vida tive meses, e os esquecerei mesmo nunca querendo. Mas sempre haverá em mim a marca negra dos choros que causei, das noites que roubei, dos sorrisos que baguncei. Eu nunca quis ser uma pessoa ruim, e ainda assim fui terremoto e calamidade, destruindo tudo por onde passo.

Temos pouco tempo

Sem vozes ou ruídos, nem mesmo as melodias melancólicas que costumam acalentar a alma. É estranho como os ruídos nos salvam e o silêncio nos mata devagar. Fazendo enlouquecer, primeiro a mente e depois o corpo.

Na calmaria eu deixo o meu corpo, e diante de um pensamento velho tão elaborado e muito bem guardado reviro as memórias de um passado de glória, de noites estreladas e chuvas quentes. E quando a fumaça e as cinzas desse passado finalmente se forem, tenha a certeza de que não estarei mais aqui.

Quando a alma se cala o medo se esvai, não há nada que não possamos mais fazer. Não me lembro de já ter sentido medo. Talvez minha alma esteja calada por muito tempo, ou apenas ficou muda, e surda.

Temos muito pouco tempo pela frente.

Esta noite eu clamei pela morte

O rotineiro cansaço é um tanto quanto falho. Se atrasa e se perde na escuridão, mas sempre bate a porta com uma má intenção.

Desta vez não tardou, mais rápido do que eu esperava já se mostrava apressado em tomar conta de todo o espaço, e de mim.

Quando o cansaço extremo se colide com o vazio perpétuo o vendaval é certeiro e completo, tanto que faz chover em desertos áridos e pouco conhecidos, chovendo água que cai dos olhos.

Não me atrevo a falar da tristeza, a deixo soterrada debaixo de várias camadas. Só voltarei a lhe dizer algo quando estiver sozinha, quando sentir que posso, quando ninguém estiver olhando. Porque as risadas machucam, mas o descaso é o pior veneno da humanidade.

Não sinto falta de respirar, não quando meu maior desejo e enfim parar de fazê-lo.

Esta noite eu clamei pela morte.

Céu e inferno

Há muito silêncio na caixa de pássaros, e a cada noite em claro ela se afasta alguns passos. A hesitação das notas de roda pé é a pior das desgraças, ainda que tudo se mostre não valer a pena… ou valer, ainda que ninguém saiba disso com total certeza e ainda que o mundo seja repleto de certezas nunca ditas e os maiores questionamentos que alguém se pode ter na vida.
Eu preciso de dez segundos de luzes ou não ficarei bem, sequer levantarei na cama na manhã seguinte como quase o fiz hoje. E todos os questionamentos que possuo se levantam para que eu não tenha mais nenhuma noite de sono, ou um dia de descanso.

Silêncio

São nossas almas que seguram o peso de uma galaxia inteira, e toda imensidão se cabe em um só suspiro cansado. Cansado de tudo, cansado da vida. Cansado de viver quando os olhos se perdem em águas salgadas e o pranto noturno acha um lugar confortável na solidão, quando o silêncio machuca e o entardecer demora uma década para se dissipar, e o desejo de dormir nunca é concedido.

Cansado de tudo, cansado da vida. Cansado de viver quando os olhos se perdem em águas salgadas e o pranto noturno acha um lugar confortável na solidão, quando o silêncio machuca e o entardecer demora uma década para se dissipar, e o desejo de dormir nunca é concedido.

O silêncio machuca porque cabem milhares de palavras, e ainda assim ninguém as diz. A quietude é violenta e inabalável, mas as palavras são irreversíveis e fugazes.
A quietude é violenta e inabalável, mas as palavras são irreversíveis e fugazes.

Sem saber o que é pior, me abstenho e suspiro. Não tem problema, não é silêncio e nem palavras.

Não tem problema, não é silêncio e nem palavras.

RGB Colors

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E que cale-se todas as vozes, todos os pensamentos. Que congele todos os movimentos e que novas frases nunca sejam proferidas. O mundo em preto e branco é mais adequado, muito mais reconfortante do que as cores que costumeiramente cochicham. Que se instalem em mim e vasculham de canto a canto para encontrar cada pedacinho negro, querem fazer uma muralhaQuerem recolher tudo e mostrar a mim que sou feita de coisas ruins.  

Indestrutível a mensagens subentendidas e jogadas ao vento, negligente com mal dizeres. As nuvens acima de mim são belas e ofuscantes, elas não escutam quando falam de si, sua suntuosidade é inabalável.